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terça-feira, 1 de julho de 2008

Mãe Preta: de todos nós

Manifestações artísticas e religiosas ocorrem ao redor da estátua que amamenta a criança branca, alusão as amas-de-leite no período da escravidão.
Inaugurada em 23 de janeiro de 1955, o monumento foi parte das comemorações de encerramento do IV Centenário da Cidade de São Paulo. A escolha do Largo do Paissandu para acolher a homenagem à Mãe Preta aconteceu devido a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, e de ter sido aquele largo, desde a construção da igreja no início do século XX, um ponto de referência para a comunidade afro-descendente de São Paulo. A escultura de Júlio Guerra, Mãe Preta, ganhou foros de entidade religiosa, com rituais católicos e afro-brasileiros. Deposição de velas e outras oferendas como flores, comidas, bebidas e até pedidos e escritos em pedacinhos de papel encontram-se aos pés da estátua. No ano de 2004, uma solicitação encaminhada pela Irmandade do Rosário dos Homens Pretos e da comunidade local, o monumento à Mãe Preta foi tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. O movimento negro tinha intenção de erguer um monumento à Mãe Negra no Rio de Janeiro, então Capital Federal, final dos anos 1920. Tanto o governo federal quanto o estadual contribuiriam com verbas, mas, com a Revolução de 1930, a proposta foi deixada de lado. Sócios do Clube 220, entidade que congregava agremiações negras no Estado de São Paulo, retomaram a proposta nos 1950 para a construção de um monumento à Mãe Preta, dessa vez em São Paulo. Veículos de comunicação como os jornais Diário da Noite e Correio Paulistano encamparam a idéia.

O projeto foi então encaminhado para votação na Câmara Municipal, tendo como autor o Vereador Elias Shammas que foi aprovado. A partir daí deu-se origem ao concurso público de maquetes para a construção do monumento, instituído pelo então prefeito Jânio Quadros no ano de 1953. O vencedor foi Júlio Guerra, que deu maior realidade e simplicidade. Para alguns tradicionalistas negros a estátua era muito moderna, o que não agradou à primeira visão. Muitos gostariam de ver Mãe Preta imortalizada em linhas acadêmicas como uma mucama bonita e bem arrumada como costumavam ser as amas-de-leite, e não como aparece majestosa na figura do Paissandu. Júlio Guerra tem obras fora do circuito cultural do bairro e em lugares mais afastados das principais ruas da capital paulista, por exemplo a escultura sobre um dos túmulos da família Schimidt, no Cemitério de Santo Amaro, que mostra Jesus Cristo deitado afagado por Maria. Júlio Guerra morreu na capital paulista em 21 de janeiro de 2001. {Francisco Martins}

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