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quarta-feira, 19 de julho de 2006

Quando resolvi ser ator meu pai me disse: '"coloque em uma mão um pires e na outra um manifesto"

O corpo do ator Raul Cortez está sendo velado no hall de entrada do Teatro Municipal de São Paulo, na Praça Ramos de Azevedo, região central da cidade. O velório só será aberto ao público por volta das 12 horas. O corpo será cremado às 17 horas no Crematório de Vila Alpina, zona leste da capital paulista.

A carreira de Raul Cortez foi marcada pela conciliação entre facetas diferentes. Conseguiu ser ao mesmo tempo artista ousado, meter-se em projetos libertários, e também engajado, mas também cultivar a imagem de artista do chamado 'teatrão' e fazer sucesso popular na televisão. Uma dessas conciliações ocorreu em 1980, quando a um só tempo ele brilhava, e recebia prêmios, no papel do velho militante de esquerda Manguary Pistolão da peça Rasga Coração, de Oduvaldo Viana Filho, o Vianninha, recém-liberada pela censura, enquanto era admirado por milhares de espectadores da novela Água Viva, que vibravam com sua criação para o cirurgião plástico Miguel Fragonar. Bem nascido, de família rica contrariou oo pais quando decidiu ser ator. Em 1969, encarnando um travesti em Os Monstros, sob direção de Denoir de Oliveira; antes, em 1968, já havia ousado com um nu na montagem de O Balcão, dirigida por Victor García; atuou sob direção de Zé Celso no Teatro Oficina, tanto na sua primeira fase áurea, na década de 60, em montagens antológicas como Os Pequenos Burgueses, quanto na volta do diretor exilado, num Oficina destroçado, em As Boas, de Jean Genet. Porém, a comédia "Greta Garbo Quem Diria Acabou no Irajá" sem dúvida foi a peça mais representada por Cortez.

Um rico aluno de Direito - Raul Christiano Machado Cortez nasceu no dia 28 de agosto de 1931, em Santo Amaro. Estudante de Direito, passou a freqüentar o Nick Bar, vizinho ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Pouco depois, faria um teste para o TBC e seu talento começou a brilhar ao substituir Leonardo Villar no papel de Biff, em A Morte do Caixeiro-Viajante. Sob direção de Antunes atuou em Yerma, do espanhol Garcia Lorca; sob a direção de Ziembinski, em Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues. Dizia gostar dos personagens loucos e lúcidos que se revoltam, como Joaquim de Vereda da Salvação, mais um dos que criou sob direção de Antunes Filho. Foi um dos fundadores da Apetesp, em 1974, e também seu presidente, durante muitos anos. O seu último trabalho na televisão foi na Mini-Série JK, da Rede Globo de Televisão.
Em 1979, quando estreou em Rasga Coração, de Vianninha, tinha 48 anos e uma carreira repleta de prêmios teatrais. Havia levado ao palco personagens de Edward Albee, Molière, Lorca, Jean Genet, Gorki, Nelson Rodrigues, Jorge Andrade e muitos outros. Nas novelas e no palco - Sua popularidade na telinha explodiu na novela Água Viva, sua primeira na Globo. Seu último papel em novela foi em Senhora do Destino. Foi durante as gravações que ele descobriu o câncer. Sucesso televisivo, no seu caso, não significou interrupção nos palcos. Em 1986, novamente sob direção de Antunes, faria A Hora e a Vez de Augusto Matraga, inspirado em Guimarães Rosa. E muito mais. O corpo do ator Raul Cortez está sendo velado no hall de entrada do Teatro Municipal de São Paulo, na Praça Ramos de Azevedo, região central da cidade. O velório só será aberto ao público por volta das 12 horas. O corpo será cremado às 17 horas no Crematório de Vila Alpina, zona leste da capital paulista.

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