Páginas

segunda-feira, 4 de março de 2013

“Solar da Fossa”: celeiro cultural

Pelo Solar da Fossa alguns dos principais nomes da música popular, teatro, cinema, televisão, imprensa, política

Um casarão colonial em Botafogo, de dois andares e 85 quartos, que mudou para sempre os rumos da cultura carioca e, por que não? Brasileira. foi o endereço e o abrigo de poetas, compositores, atores, jornalistas, artistas plásticos – loucos, cabeludos e “desbundados” que vinham de todos os cantos do país e encontravam ali o jardim ideal para plantar suas “folhas de sonho” e materializar verdadeiras obras de arte. O local, que hoje é ocupado por um dos maiores shopping centers da cidade, foi a sede de um verdadeiro caldeirão cultural e o cenário de inúmeras histórias engraçadas, românticas e muito polêmicas.


De 1964 a 1971, passaram pelo Solar da Fossa alguns dos principais nomes da música popular, teatro, cinema, televisão, imprensa, política e comportamento. Entre os inquilinos que viriam se tornar famosos estão Caetano Veloso, Gal Costa, Paulo Coelho, Paulinho da Viola, Paulo Leminski, Tim Maia, Maria Gladys, Betty Faria, Ítala Nandi, Antônio Pitanga, Marieta Severo, Zé Kéti, Gutemberg Guarabyra, Abel Silva, Cláudio Marzo, Mauro Mendonça, Naná Vasconcelos, Adelzon Alves e Darlene Glória, a maioria na faixa de 23 ou 24 anos.

 Além de aberto e acessível à cidade que o cercava – na verdade, o Rio ia ao Solar para conhecer seus sedutores rapazes e moças, trocar ideias, aprender com eles, beber algumas, praticar certos esportes ilegais ou, o que era comum, namorá-los. O nome “fossa” foi aplicado ao Solar em 1967 pelo cenógrafo e carnavalesco salgueirense Fernando Pamplona, quando, arrasado, foi morar lá por ter se separado da mulher. No Solar foram compostas mais de 15 canções, como “Paisagem útil”, “Alegria, alegria”, de Caetano Veloso; “Sinal Fechado” de Paulinho da Viola; e Paulo Leminski escreveu longas partes de seu romance Catatau.

Grupos como o trio Sá-Rodrix-Guarabyra e o Momento 4 se formaram no Solar. Três das primeiras grandes estrelas a posar nuas para uma revista masculina moravam lá: Betty Faria, Ítala Nandi e Tania Scher. Por causa do diretor Kléber Santos, o Solar era quase uma extensão do Teatro Jovem, em Botafogo, onde se gestava a renovação do teatro brasileiro, e do Casa Grande, onde o momento político e cultural era dissecado pelos grandes nomes.

Os moradores do Solar tinham roupa lavada e passada, lençóis, colchas e toalhas trocadas e o chão varrido ou encerado semanalmente, tudo incluído no aluguel. Se quisessem, podiam fazer as refeições lá mesmo, pagando um pouco a mais. Em 1972, o Solar foi demolido para, em 1980.

Nenhum comentário: