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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Os talentos de Prévert

Se há alguém multimídia, é ele. Sua contribuição em cada uma das mídias é notável.



Jacques Prévert foi um poeta e roteirista francês cujo nome é quase um verbo em seu País. Em 1946 lançou com sucesso uma coletânea de poesias, Paroles. A partir daí torna-se um grande poeta popular, graças à sua linguagem familiar, e grande senso de humor. Tinha um modo muito especial de jogar com as palavras. Seus poemas são estudos obrigatórios em todas as escolas francesas e em algumas do mundo, conquistando o reconhecimento internacional. Como roteirista, Jacques Prévert ironiza os usos e costumes, o clero, a igreja. Criou roteiros e diálogos de grandes filmes franceses pertencentes à escola do realismo poético, realizados em sua maioria por Jean Renoir e Marcel Carné. Como compositor escreve "Les Feuilles Mortes" [As Folhas Mortas], que foi muito famosa em seu tempo, na voz de Ives Montand e Edith Piaf. Nat King Cole, Juliette Gréco também gravaram sua bela composição. Depois, Serge Gainsbourg fez uma música chamada "La chanson de Prevért" que faz referência à canção citada.

Apaixonado pela cidade

Durante toda sua vida Prévert manteve uma extraordinária cumplicidade com Paris. Era profundo conhecedor das passagens secretas da capital francesa, como os Grandes Boulevard. Transitava muito bem entre operários, escritores da Saint-Germain-des-Près e os pintores de Montmatre. Assim, aos poucos ele ia plantando a essência de sua poesia no coração de Paris e de seus habitantes. Era como se ele buscasse sempre aquela cidade e os Jardins de Luxemburgo que embalou sua infância. Infância dos vários Prévert que compõem o itinerário de um artista engajado como poucos. Tudo em prol de sua Paris e de seus habitantes.

Engajado

O artista multimídia Jacques Prévert nasceu em 4 de fevereiro de 1900, em Neuilly-sur-Seine, França, onde passa a sua infância. Seu pai, André Prévert, um crítico de dramaturgia, leva-o sempre ao teatro e sua mãe, Suzanne Catusse, o inicia na leitura. Aos 15 anos consegue o certificado de estudos básicos e sai da escola e começa a fazer pequenos trabalhos. Convocado para o serviço militar, então, vai para Saint-Nicolas-de-Port, onde encontra Yves Tanguy, antes de ser enviado para Istambul, conheceu também Marcel Duhamel. Em 1925, integrou-se ao movimento surrealista, grupo formado por M. Duhamel, Raymond Queneau, Yves Tanguy e Prévert. Mas, Prévert com seu espírito independente não consegue permanecer por muito tempo no grupo. Era inquieto, características de um artista que foi engajado e libertário como poucos. Mantinha amizades importantes com Juan Miró, Alexander Calder e Pablo Picasso, com quem brincava “você é um cineasta só não sabe filmar’, dizia Prévert. Por sua vez Picasso retrucava “Você é um grande pintor mesmo não sabendo pintar e desenhar”. Mas ambos sabiam que as colagens de Jacques Prévert eram extraordinárias, com riquezas de detalhes , criatividade e humor.
Sua inquietação o levaria a mais um ofício, escrever para teatro. Ele começa a escrever peças para teatro, mais especificamente para o grupo Outubro, nos anos 30. Seus textos gerariam agitação social na França. Em 1933, ele viajou para Rússia e ao retornar torna-se um militante de causas radicais. Segundo um catálogo de exposição, quando desembarcou em Paris deu de cara com um grupo de operários da Citröen que preparavam uma greve para aquele mesmo dia. Pediram-lhe um texto e ele atendeu no mesmo instante sem pestanejar.

Vira roteirista

Sua parceria com Marcel Carné rendeu a cultuada série chamada de ‘realismo’. Escreveu grandes filmes franceses realizados entre 1935-1945, todos eles considerados obras-primas do realismo poético francês. Entre eles um curtametragem ‘ Paris Express’, 1828, Drôle de Drame, Le Quai des Brumes, Hotel du Nord, Le Jour se Lève, Les Enfants du Paradis [O Boulevard do Crime - 1945] de Marcel Carné. Seus poemas são transformados em música por Joseph Kosma, Les Feuilles Mortes [Folhas Mortas]. Em 1.946 ele deixa o cinema e orienta-se para a literatura.
O legado do artista exposto no Hotel de Ville, centro de Paris, até 28 de fevereiro de 2009, dá uma visão de que ele não se fixou em dogmas ou rótulos. Era um libertário de si mesmo. Prévert faleceu aos 77 anos, em 11 de abril de 1977, de câncer do pulmão.

[Reportagem de Francisco Martins publicada na versão impressa de http://www.boston.com/ , domingo 22/02/09, com 1,6 milhão de exemplares.

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