
Incansável é o termo mais adequado para a bailarina, uma apaixonada pela arte em geral. Gumiel já andava muito devagar e, sua figura era frágil, mas escondia uma mulher forte. Era uma presença forte nos teatros, sempre com um cigarro entre os dedos, batom vermelho nos lábios e uma taça de champanhe. Jamais abandonou os palcos, recentemente viajou para a Alemanha ao lado do consagrado bailarino Ismael Ivo, atuou nos espetáculos de do diretor José Celso Martinez Corrêa, na seqüência de "Os Sertões" e em janeiro dançou "Cinzas", no Sesc Pinheiros. Renée deu seu último adeus aos palcos.
A bailarina morreu neste domingo, às 23h30, no Hospital Santa Cruz, em São Paulo, vítima de bronco-pneumonia. Uma das figuras mais relevantes e marcantes da dança moderna brasileira. Sua vida bem que poderia servir de roteiro para um espetáculo ou filme. Ela costumava contar com orgulho a suas experiências pelos teatros europeus, parcerias com figuras históricas como os brilhantes Igor Stravinski e Jean Cocteau. Também nunca se esqueceu das amarguras de uma guerra, da dureza de enfrentar e resistir aos exércitos de Franco durante a Guerra Civil Espanhola, e de resistir aos nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Some a tudo isso, a paixão pela vida: resistiu a três cânceres.
Ainda muito jovem, aos 17 anos perdeu a mãe, Marguerite vítima de leucemia, seu pai Maximiliano foi vítima dos nazistas, em junho de 1943, enquanto a jovem bailarina se refugiava na Espanha. Nascida na cidade francesa de Saint-Claude, onde teve o seu primeiro contato com a dança aos cinco anos. O balé a acompanhou em todos os momentos. Tentou mudar, foi estudar psicologia e filosofia na Sorbonne, mas seu destino estava traçado, era o palco. Foi aluna de mestres como Rudolf Laban e Kurt Joss. Gumiel transpôs todos os limites desta arte, a dança. Apresentou-se com atores renomados como Irene Ravache em 1977, quando fez a elaborou corporal da atriz para a peça "Os Filhos de Kennedy".
Outros que teve à mão de Renée Gumiel, Renato Borghi, Sérgio Brito, Raul Cortez e Marília Pêra. Além de influenciar e formar gerações de bailarinos, como Marika Gidali, diretora do Balé Stagium.Como coreógrafa também buscou o diálogo entre a dança e a literatura, montou obras inspiradas em Kafka, Sartre e Brecht, sempre em busca da expressividade. Em 1979, flertou com o butô de Takao Kusuno na montagem de "As Galinhas", ao lado de Ismael Ivo. E em 1997 foi premiada como melhor atriz no Festival de Gramado por sua atuação em "Ruído de Passos", de Denise Gonçalves. Prêmios não faltaram, em 1996 a Unesco lhe concedeu o Mérito Artístico em Dança. Trabalhou com o diretor de teatro José Celso Martinez Correa, do Oficinal, onde atuou em "Cacilda!" e na série "Os Sertões".
Brasil: Logo que desembarcou no País abriu sua primeira escola, por volta de 1957, na Rua Augusta, 877. Foi de lá que sua história começõu a ser construida. Aqui, ela permaneceu três anos na cidade, cansou. Voltou em 1960 para a Europa, onde o intuito seria de trabalhar com Kurt Joss na Alemanha. Não conseguiu ficar distante do Brasil, voltou no ano seguinte e montou novamente sua escola, que permaneceu aberta até 1988. O sucesso das aulas, que Renée nunca abandonou, propiciou a criação, em 1964, de seu primeiro grupo: a Companhia de Dança Contemporânea Brasileira. Um feito: superou a incompreensão do público acostumado ao balé clássico e os preconceitos.
O corpo da bailarina está sendo velado nesta segunda-feira no teatro do Sesc Consolação e segue, nesta tarde, para o Crematório da Vila Alpina.
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